A Igreja de Santo Antônio
Situada no Largo do Patriarca, região central de São Paulo, possui data de fundação imprecisa — entre 1592 e 1623 — e faz parte da história dos tempos da província.
Dá-se especial importância a essa igreja tendo em vista que poderia ter assumido as funções de matriz nos primeiros tempos da cidade. Além disso, é considerada a mais antiga da cidade. Em 1592, já constava do testamento do donatário Afonso Sardinha, o que leva a supor que sua construção é anterior a essa data. Tratava-se de uma simples ermida, construída por fiéis anônimos.
Segundo Tirapeli, a edificação sobre reformas e modificações nos anos de 1642, com a chegada dos franciscanos; 1717; 1746 e 1748, esta última de maiores proporções. A atual configuração da fachada da igreja difere daquela retratada em aquarela de meados do século XIX de José Wasth Rodrigues.
Internamente a igreja possui exemplares de talha de ótima qualidade. Na capela-mor encontra-se um retábulo com estrutura de influência romana e elementos ornamentais franceses.
Ladeando o arco-cruzeiro encontram-se dois significativos exemplares de retábulos de altares com estrutura joanina.
A Igreja de São Francisco
Os franciscanos chegaram a São Paulo em 1639. A princípio foram acolhidos nas dependências da igreja de Santo Antônio e acabaram escolhendo um terreno nas proximidades para a construção do convento de São Francisco.
Contudo, em razão da escassez de água e também por conta do local ser sujeito a fortes ventos, os franciscanos escolheram outra localização para a construção.
Em 1642, os franciscanos mudaram-se para o novo local e o convento foi inaugurado em 1647.
No ano de 1828, foi criada a Faculdade de Direito de São Paulo que ocupava uma sala que, à época, servia de sacristia, com acesso para o claustro.
No Império, o governo solicitou as acomodações para que nelas funcionasse inteiramente o curso jurídico.
Em termos gerais, o conjunto ainda conserva suas proporções, com exceção do alpendre, levantado em 1787, e da capela-mor, reconstruída após o incêndio de 1880.
Internamente apresenta ornamentação harmônica de diferentes períodos. Os dois retábulos laterais são de estilo joanino e destacam-se pela proporcionalidade em relação ao pé-direito do templo. No teto há pinturas datadas de 1953, mas não há informações precisas se foram slavas do incêndio e restauradas ou até mesmo recriadas. Tais pinturas encenam a vida de São Francisco. No coro há um cadeiral em jacarandá, com linhas severa renascentistas e sem ornamentos onde se sentam os freis quando são cantadas as antífonas. Na sacristia há dois arcazes de jacarandá com trenulados e molduramentos de folhas.
O retábulo-mor foi adquirido na Alemanha quando da reconstrução em 1880, bem como os azulejos são de fase posterior à fundação da igreja (início do século XX).
Por fim, a Faculdade de Direito foi remodelada entre 1933 e 1938, passando a ostentar um estilo neocolonial.
A Igreja de São Gonçalo
Igreja de São Francisco e Ordem Terceira. Faculdade Direito – Séc. XX.
Localiza-se na Praça João Mendes e sua construção data do século XVIII, em taipa de pilão. Inicialmente modesta, passou por várias reformas.
O santo padroeiro desta igreja atuou como missionário no Japão, tendo sido crucificado em 1579, em Nagasáki, com outros vinte e dois religiosos, por pregarem a religião católica aos japoneses. A devoção a este santo no Brasil é bastante antiga, remontando ao ano de 1638 pelo menos. Atualmente é uma das poucas igrejas sob a guarda de jesuítas.
A igreja passou por reformas externas na segunda metade do século XIX, tendo sido construído o frontispício atual em 1881. Internamente, os dois altares laterais são provenientes da antiga igreja de Nossa Senhora Aparecida, da cidade de Aparecida. Nesses altares figuram a pomba do símbolo do Divino e raios como resplendor. A talha reúne elementos ornamentais que remetem a elementos da arquitetura italiana e a estrutura contém elementos joaninos.
Hoje em dia, a igreja, muito frequentada por japoneses, guarda várias peças que pertencem à antiga igreja do Colégio dos Jesuítas, sendo a mais importante a sua pedra fundamental, com a inscrição IHS, símbolo dos inacianos, a qual ainda se encontra sobre a verga da porta de entrada. Ainda na fachada, é possível ver, na torre, o quadrante do relógio.
A Igreja da Ordem Terceira do Carmo
Criada em 1697, estava pronta e completa em 1763.
Na parte interna possui nave única e capela-mor, ambas com tribunas com safenas e elaborados guarda-corpos em talha dourada. Trata-se de um precioso conjunto de talha, imaginária e pintura.
O retábulo, o trono e o forro da capela-mor foram substituídos por volta de 1793 por novos trabalhos executados pelo mestre José de Oliveira Fernandes.
A capela-mor apresenta um conjunto de talha delicadamente lavrada em que se alternam o fundo branco e os filetes dourados, como os ornatos mais destacados.
As obras realizadas entre 1922 e 1927 deram ao conjunto seu aspecto atual, composto por capela, sacristia, consistório, sala de reuniões e jazigo.
A igreja guarda também painéis a óleo pintados, pelo padre Jesuíno do Monte Carmelo, oriundos do antigo Recolhimento de Santa Teresa.
Além delas, há também pinturas de José Patrício da Silva Manso como a encontrada no centro do teto da sacristia.
A pintura do forro da igreja foi realizada entre os anos de 1796 e 1797 pelo padre Jesuíno do Monte Carmelo. O padre teria pintado primeiro a nave, depois a capela-mor e, por último, o coro. A pintura é construída conforme as linhas arquitetônicas das paredes, sendo criados nos espaços entre as molduras seis grupos de beatos e beatas carmelitas, com quatro figuras cada, representados de corpo inteiro e apoiados diretamente sobre a cimalha. Esta obra é considerada a de maior vulto deste padre carmelita.
Sobre a pintura da nave há pintura de Pedro Alexandrino. Ao visitar a igreja é possível ver a prospecção executada, por meio da qual é possível visualizar parte da obra deste último e parte da pintura do padre Jesuíno do Monte Carmelo. Sob a pintura da capela-mor também existe outra pintura, provavelmente de autoria do frei carmelita, com prospecções sendo realizadas, a partir das quais já começa a aparecer a obra oculta.
O Museu de Arte Sacra
No início do século XX, retiraram-se as peças mais antigas — da capital e do interior — da grande Arquidiocese de São Paulo, das capelas mais importantes, tais como: São Vicente, Santos, Embu, Escada, Parnaíba, Itu, Mogi das Cruzes e outras.
O conjunto foi levado para o Museu da Cúria Metropolitana. Porém, em decorrência das condições limitadas para a exposição das peças ao público, foi estabelecido um convênio que possibilitou que o mosteiro da Luz passasse a abrigar em suas dependências o Museu de Arte Sacra.
Assim, foram realizadas obras no edifício, afim de se recuperar o máximo de suas características originais, quais sejam: recolocação do assoalho de tábuas de ipê, fixadas com cravos; restauração dos batentes e guarnições de portas e janelas; eliminação de diversas camadas de repintura das paredes e instalações elétricas adequadas a um museu.
O museu foi, enfim, inaugurado em 1970 com cerimônia realizada na igreja do Convento da Luz.
O acervo do museu foi ampliado na década de 1970 por novas aquisições pelo estado, bem como por doações de particulares, sendo que mil e oitocentas obras da imaginária popular paulista foram doadas por Eduardo Etzel.
Entre as obras de maior relevância, é possível citar a grande coleção de imaginária de terracota ou barro cozido, muitas de autoria dos freis Agostinho da Piedade e Agostinho de Jesus.
Interessante também são os retábulos “bandeirantes”, de Nossa Senhora da Luz, que emerge da parede capitular do mosteiro, e os dois retábulos da igreja matriz de Santo Amaro, todos eles restaurados pelo professor Júlio Moraes.
Atualmente, o museu reúne um acervo de quatro mil obras representativas de arte sacra brasileira desde o século XVI.
Além disso, o museu reúne cento e noventa presépios provenientes dos mais diversos lugares e executados com técnicas diferenciadas, bem como o único exemplar de presépio napolitano do país.
Conclusão
O processo de povoamento de São Paulo deu-se de forma diferenciada do restante do país. Soma-se a isso o fato de que a região era inóspita, de difícil acesso, bem como a riqueza advinda da exploração do ouro e, posteriormente, do cultivo da cana-de-açúcar não surtiram o mesmo efeito das regiões litorâneas e das Minas Gerais, por exemplo. Ou seja, fomos uma vila “pobre” e pouco povoada por muito tempo. Em contrapartida, tais características que, à primeira vista, parecem desfavoráveis à manutenção de qualquer manifestação artística, foram decisivas no desenvolvimento de uma arte tipicamente popular, singular e muito criativa. É óbvio que, nos primórdios, o modelo português era a base da produção artística, contudo, em virtude, do já mencionado e da matéria-prima ao alcance ser, primordialmente, o barro, a nossa produção seguiu por caminhos próprios. É emocionante, ao visitarem-se as igrejas do centro antigo de São Paulo, observar a delicadeza e o cuidado com os detalhes, mesmo sem fazer-se uso da ostentação.
São igrejas, em sua maioria, pequenas e aconchegantes que contrastam com a imponência neogótica da atual Sé, a qual, diga-se de passagem, também é lindíssima em sua grandeza. A arte colonial religiosa paulista demonstra pretensões alforriadoras em relação ao modelo europeu quando um viúvo, iletrado, filho ilegítimo e mulato chamado Jesuíno Francisco de Paula Gusmão consegue ser ordenado padre, passando a denominar-se, Jesuíno do Monte Carmelo, e, nesse ínterim, executa pinturas para igrejas e conventos paulistas. E não só. Padre Jesuíno do Monte Carmelo, em pleno século XVIII, pinta o forro da igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Itu, deixando evidente o seu repudio em aceitar o preconceito em relação a sua pele. Nas palavras de Mário de Andrade: “(…) sucedeu que na revoada de anjinhos que ele despertou e fez voar pelo alvíssinzo forro da do Carmo, enxergando aquela mão que ele é tão forçado a olhar na pintura e nos órgãos, a pele de um dos anjinhos lhe saiu exatamente da cor da mão. Jesuíno se vingou” (Andrade, 1945, p. 22). Pouco mais tarde é sabido que a cidade de São Paulo sofre enormes transformações trazidas com as riquezas provenientes das lavouras cafeeiras. Muito da cidade colonial é derrubado para dar espaço à fase “afrancesada” da capital, a qual é, do mesmo modo, expressão digna de admiração da caminhada histórica da cidade. Todavia, tudo aquilo que ainda resta dessa primeira fase da antiga vila merece um olhar atento e valoroso, não só pela beleza que lhe é inerente, mas por se tratar de um retrato vivo de nosso passado mais remoto.
Referências
- ANDRADE, Mário. Padre Jesuíno do Monte Carmelo, Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, 1945.
- ÁVILA, Affonso. Barroco: teoria e análise. São Paulo: editora Perspectiva, 1997.
- TIRAPELI, Percival. Arte sacra: barroco memória viva. São Paulo: editora UNESP, 2005.
- ________ . Igrejas Barrocas do Brasil. São Paulo: editora Metalivros, 2008.
- ________ . Igrejas paulistas: barroco e rococó. São Paulo: editora UNESP, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2003.
2 Comments
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Muito boas as informações.
Gostaria de saber se o relógio da igreja de São Gonçalo é mesmo o primeiro relógio da cidade.
Olá, Teresa.
Segundo a fonte: http://casa.abril.com.br/materia/conheca-os-relogios-que-marcam-o-compasso-de-sao-paulo#3
O primeiro relógio instalado em uma fachada na cidade de São Paulo e que se mantém original até hoje é o que está instalado na fachada da Faculdade de Direito da USP (Largo São Francisco), datado de 1884.
Gratos.
Att.,
Ateliê, Arte e Restauração.